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4 de mar. de 2010

Manifesto Hedonista ( Ode A Onfray )


"Deus está nu"

Michel Onfray

O filósofo francês mais lido da atualidade
diz que as três grandes religiões monoteístas
vendem ilusões e devem ser desmascaradas
como o rei da fábula de Andersen

Michel Onfray nascido a 1 de Janeiro de 1959 é um filósofo francês. Doutorado em filosofia. Onfray leccionou filosofia numa escola técnica secundária entre 1983 e 2002, tendo abandonado o ensino oficial para criar a Université Populaire de Caen, sem fins lucrativos. Os seus escritos celebram em geral, ateísmo, hedonismo e razão.

Os três monoteísmos, animados pela mesma pulsão de morte geneológica, partilham uma série de desprezos idênticos: ódio à razão e à inteligência; ódio à liberdade; ódio a todos os livros em nome de um só; ódio à vida; ódio à sexualidade, às mulheres, ao prazer; ódio ao feminino; ódio aos corpos, aos desejos, às pulsões. Em vez de tudo isso, o judaísmo, o cristianismo e o islão defendem: a fé e a crença, a obediência e a submissão, o gosto pela morte e a paixão do além, o anjo assexuado e a castidade, a virgindade e a fidelidade monogâmica, a esposa e a mãe, a alma e o espírito.” – Michel Onfray em Tratado de Ateologia

As eleições são paródias que se servem de palavras bonitas – democracia, povo, nação, república, soberania – mas que não conseguem esconder o cinismo dos governantes: trata-se para eles de instalar ou manter uma tirania que produza um homem unidimensional – o consumidor estupificado e alienado – como nenhuma ditadura alguma vez conseguiu produzir.” – Michel Onfray em Política do Rebelde

André Fontenelle

Em um tempo em que a religiosidade está em alta, surpreende o livro que se encontra no topo da lista dos mais vendidos na França desde o mês passado, à frente até das biografias de João Paulo II: Tratado de Ateologia. Escrita pelo filósofo mais popular da França na atualidade, Michel Onfray, de 46 anos, a obra é um ataque pesado ao que o autor classifica como "os três grandes monoteísmos". Segundo Onfray, por trás do discurso pacifista e amoroso, o cristianismo, o islamismo e o judaísmo pregam na verdade a destruição de tudo o que represente liberdade e prazer: "Odeiam o corpo, os desejos, a sexualidade, as mulheres, a inteligência e todos os livros, exceto um". Essas religiões, afirma o filósofo, exaltam a submissão, a castidade, a fé cega e conformista em nome de um paraíso fictício depois da morte.

Para defender essa argumentação, Onfray valeu-se de uma análise detalhada dos textos sagrados, cujas contradições aponta ao longo de todo o livro, e do legado de outros filósofos, como o alemão Friedrich Nietzsche (1844-1900), que proclamou, em uma célebre expressão, a "morte de Deus". O filósofo escreve em linguagem acessível, a mesma que emprega ao lecionar na cidade de Caen, no norte da França. Ali criou uma "universidade popular" que atrai milhares de pessoas a palestras diárias e gratuitas sobre filosofia, artes e política. Gravadas pela rádio pública France Culture, as aulas de Onfray são sucesso de audiência. Os fãs o consideram um sucessor de Michel Foucault (1926-1984), o mais influente filósofo francês do século passado. Em seus livros, Onfray propõe o que chama de "projeto hedonista ético", em que defende o direito do ser humano ao prazer. Uma de suas obras, A Escultura de Si, ganhou em 1993 o Prêmio Médicis, o mais importante da França para jovens autores. Onfray também tem detratores, que o acusam de repetir idéias ultrapassadas. Em dois meses seu Tratado vendeu 150.000 exemplares. De seu escritório em Argentan, Onfray concedeu a seguinte entrevista a VEJA.

http://veja.abril.com.br/250505/entrevista.html

Se conseguíssemos imaginar o mal – ou o que nos ensinaram ser o mal – desvinculado de qualquer conotação moral, livre em sua própria magnificência e poder, apartado de todas as camadas de falsos conceitos e maliciosas definições que as metafísicas e as instituições religiosas lhe concederam, um nome – um único nome – surgiria no panteão do pensamento: Sade.

E se pudéssemos sobrepor a esse valor, um outro, e se esse outro valor possuísse, em nossas mentes, os mesmos pré-requisitos que listei acima, então um novo homem e uma nova mulher surgiriam, livres em suas potencialidades, prontos a usufruir o que a natureza lhes concede todos os dias e, ao mesmo tempo, as instituições lhes arrancam. Esse segundo valor, essa segunda força, essa segunda nota musical que, somada à anterior, compõe a sinfonia que flameja no inconsciente de todos, lutando para libertar-se, chama-se sexo.

E se uníssemos esses dois elementos ígneos à personalidade de Sade e ao vigor que suas idéias ainda proclamam, veríamos como o que imaginamos ser liberdade nada mais é do que a concessão que os poderosos nos fazem, em sua mentirosa magnanimidade, a fim de conseguirem que sejamos servos dóceis e submissos, a fim de que trabalhemos para que eles lucrem, a fim de que, canalizando nossas energias para o progresso deles, esqueçamos de buscar o nosso próprio prazer, a nossa própria beleza, a nossa própria felicidade.

Imaginemos um mundo no qual cada ser humano buscasse, sempre em primeiro lugar, apenas o seu prazer. Imaginemos um mundo no qual a primeira lei – poderia ser a única – fosse cada um satisfazer seus próprios anseios, suas próprias necessidades. Imaginemos um mundo onde nosso objetivo fosse fruir e produzir beleza e prazer. O que aconteceria com a ordem vigente? Eu lhes digo: ela ruiria em poucos dias, talvez em poucas horas.

E sabem por quê? Porque a força que garante a ordem desse mundo mesquinho, vingativo e medíocre em que vivemos é, somente, a força de uma única palavra: a palavra não.

Quando nos dizem sim? Quando devemos ser serviçais.
Quando nos apóiam? Quando seguimos as regras.
Quando nos elogiam? Quando agimos como desmemoriados.
Quando nos aprovam? Quando obedecemos.
Quando nos apontam como exemplo? Quando negamos nossos desejos.
Quando batem em nossas costas e dos dizem “muito bem”? Quando somos frígidos, quando somos covardes, quando aceitamos agir como seres assexuados.

As religiões, os Estados e as famílias nos castram e dizemos: amém. Cordeiros é o que somos, nada mais!

Quando diremos sim a nós mesmos? Quando deixaremos que essa chama que vibra em nós na hora da conquista, do assédio, da sedução e da cópula vibre, controle e domine todos os outros momentos de nossas vidas?

O sexo é a verdade, a verdade o sexo. Muitos poucos entenderam, até agora, o que essa frase representa. Pois eu lhes digo: a verdade é tudo. Compreenderam? Ou seja, quando negamos nossas pulsões, quando acorrentamos nossa libido, quando somos tímidos, obedientes e servis, ou seja, quando somos desprezíveis, negamos nossa condição de seres humanos e chafurdamos na mentira que as religiões, os Estados e a família criaram para garantir que um imenso rebanho de idiotas sigam suas regras e sustentem um mundo onde uma pequena minoria usufrui todos os prazeres, enquanto espezinha as cabeças de toda a humanidade.

Busquemos, antes de tudo, o nosso próprio prazer.

Digamos, sempre, sim aos nossos desejos.

Escutemos o que nossos corpos pedem e saíamos às ruas para consegui-lo.

O corpo é o altar da vida. Um altar pagão, onde não deve haver morte, onde não pode existir culpa.

Derrubemos a cruz que os cristãos ergueram no Gólgota para semear a culpa nos corações de toda a humanidade. Quebremos todos os ícones, queimemos todos os códigos, todas as leis, todas as regras.

Há, a partir de hoje, uma única regra: dizer sim – um sim absoluto! – a nós mesmos, aos nossos corpos, aos nossos sonhos, à nossa sede de prazer.

Reconstruamos o mundo a partir de nossa libido e deixemos de ser servos!




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